A primeira crônica do ano é um relato muito pessoal. Peço que tratem com carinho o que vou lhes entregar a seguir.
Já tive 32 viradas de ano. Algumas foram épicas, como a última que aconteceu em Copacabana com amigos que a vida adulta me trouxe. Teve um que passei emburrado por causa de uma sogra. Alguns passei na Costa Verde, acampando. Não consigo lembrar de todos, mas já tive réveillons viajando, em casa, com um amor, na casa de amigos, enfim. Foram vários tipos.
Mas sozinho, sem ninguém pra pelo menos sorrir, foi o primeiro.
Uma coisa que descobri é que não, não é tão triste quanto parece. Na verdade, passar o réveillon sozinho é praticamente uma oportunidade. Eu consegui sentir aquela explosão de alegria, aquele monte de gente concentrada num mesmo pensamento. Não tô falando de nada espiritual, tô falando do alinhamento mesmo, né, do pensamento e tal.
É lindo.
Só existem duas festividades que mexem comigo de alguma maneira: o carnaval e o réveillon. Porque eles mexem com a dinâmica da cidade, mudam a rotina das pessoas drasticamente, promovem grandes catarses e tal. E esse primeiro réveillon sozinho foi, talvez, o mais interessante de todos.
Às 23:30 minha playlist tocava Otis Redding. Na hora da virada fui até o terraço olhar os fogos – afinal não tem isso todo dia. Haviam balões, então como estou sozinho em casa fiquei atento se nenhum cairia nas redondezas. Não tem ninguém pra me ajudar se algum balão cair exatamente onde fica o botijão de gás.
Na real, a minha maior preocupação tem a ver com segurança: se eu levar um tombo no banho, ninguém vai acudir. Se minha coluna travar de novo (tenho problema no ciático), ninguém vai ajudar a chegar até a cama e vou me contorcer por horas.
E se um balão cair onde fica o botijão de gás, vai demorar pra acharem as cinzas do meu corpo.
Tenso.
Passar o réveillon sozinho é uma oportunidade rara para refletir sobre toda a sua vida.
Mas o réveillon sozinho é sim uma oportunidade. Sem ninguém pra abraçar, beijar ou “enfim”, me foquei nos meus planos. Essa catarse que o momento provoca faz a gente pensar muita coisa muito rápido. Acabei aproveitando pra trabalhar também. Recomendo de verdade.
O que achei estranho é que meu whatsapp, que há alguns anos praticamente só toca pra assunto de trabalho em 99% das vezes, dessa vez não recebeu nenhum spam de ano novo.
Desconfio que ainda falta muito pra eu fazer falta.