Segunda-feira treze

A correria dos dias e o calor infernal da metrópole não conseguem apagar as memórias do fim-de-semana. Ele aconteceu há muito tempo atrás, verdade, mas não há segunda-feira que arranque da memória. Buzina. Quase bateu, o cara ali – ele tava no celular provavelmente trocando mensagens no whatsapp com os contatinhos. Várias danadinhas.

Do outro lado da cidade tem um monte de gente amontoada no metrô. “Diários de uma sardinha em lata”, eu pensava, toda vez que precisava encarar aquela minhoca de lata que regurgita gente na capital. Todo mundo andando sem rumo com o destino certo, devidamente traçado por contrato, e eu aqui olhando a cidade acontecendo enquanto aproveito cada minuto de memória que o fim-de-semana rendeu.

É na segunda-feira que muita gente anda cabisbaixa, triste por voltar à rotina. Foi nesse clima de outono, com o céu cinza e as pessoas também, já dando por encerrado meu rendez-vous com a boa vida, que te avistei. Cê tava lá sorridente, caminhando em câmera lenta no sinal vermelho com os cabelos esvoaçantes. O vestidinho florido. Era tipo cena de filme, só que acontecia ali, na minha frente, num slow motion que eternizou os três segundos de vida que tive. Passou por mim como um foguete e entrou naquele prédio chique do lado da livraria.

Sequer me ignorou.

Nem me viu.

Tonto com essa montanha-russa de emoções, me coube apenas amargar a tristeza de nunca mais te ver. Falei com o Oliveira a respeito disso. Rapaz, vai lá na porta do prédio que ela entrou, vai que é o trabalho dela? Batata – te vi saindo do prédio, no fim do expediente comercial. Te segui de longe. Oras, minha intenção não era fazer nenhuma maldade, não sou um desses maníacos obsessivos que perseguem mulheres. Mas lá estava eu, do alto do meu machismo, indo te procurar pelas ruas apertadas da cidade.

Dobrei a esquina. Cê tava no boteco. Gamei.

Pego uma mesa a três cadeiras de distância da sua. Troco olhares? Pago um drink? Puxo papo? Duas palavras e entro na mente? Te juro que dava até pra sentir teu cheiro e o happy hour era muito mais feliz pra mim, ali sozinho no bar, tentando juntar coragem pra falar contigo.

– Ô meu camarada, algum problema? Me pergunta um cara forte de blusa social e calça jeans com o cabelo bem aparado.
– Só tô aqui tomando minha cerva – Respondo, descrente que esteja mesmo acontecendo alguma coisa
– Então vai encher a cara em outro lugar, seu merda.

Ferrou. Era o namorado dela, era o pai dela, era o primo dela, era o amante dela, era ela, sei lá, só sei que era alguém. Dois tapas na cara depois, consigo avistar o malandro de cordão de ouro, relógio grande e camisa polo que me expulsava do escritório etílico.

Era Jorjão, o cobrador lá do meu bairro que estava no meu encalço observando meu estilo bon vivant pelo Centro da cidade, esbanjando a grana conquistada no fim-de-semana, prevendo na segunda-feira treze um dia perfeito.

Maldito dia que fui jogar na borboleta mas não paguei o boleto.